quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Artigo de opinião sobre paradigmas estéticos

Feio e polêmico
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> Aceitar as diferenças é uma questão de culturas e costumes. Nos primórdios não convinha aceitar indivíduos estranhos ou diferentes por questões de segurança. Essa conduta arcaica de exclusão compreendia desde afastar estrangeiros, até rejeitar bebês nascidos com defeitos físicos.
> Em épocas mais recentes, os europeus caucasianos desprezaram negros e ameríndios como parte de uma doutrina ideológico-social de exclusividade da raça branca, ou, como alguns preferem chamar, Darwinismo Social. De acordo com essa maneira de pensar, qualquer indivíduo diferente não é digno de respeito ou mesmo de qualidades humanas.
> Hoje, esses pensamentos são considerados pela sociedade moderna como anacrônicos e completamente absurdos. Nós nunca estivemos tão integrados devido à globalização e, por isso, nunca tivemos tanto acesso a culturas e etnias diversas como agora. Devido a isso existe na sociedade uma maior aceitação ao novo e ao diferente.
> A Declaração do Direitos Humanos assinada na década de 60, diz que todos os cidadãos são iguais e possuem os mesmos direitos e deveres. Portanto, não se deve tratar diferentemente uma pessoa porque ela é pobre, feia ou negra. O preconceito e a exclusão tornaram-se práticas execráveis e a humanidade tenta viver uma utopia socialista onde todos são iguais e gentis uns com os outros, cheios de respeito e fraternidade mútuos.
> Entretanto, a ONU, elaboradora da Declaração, não levou em conta o Monstro Capitalista e a Indústria da Moda e Estética. Essas duas juntas põem ao chão todos os desejos de aceitação motivadores da Declaração.
> Os esquerdistas defendem que em uma economia planificada, livre do voraz Monstro Capitalista, a sociedade é mais igualitária e justa. Sinto por esse sonhadores assim; eles são ignorantes e constituem o melhor exemplo de socialistas utópicos. Até porque, no governo de Yoseph Stalin, por exemplo, havia grande repressão e onde há esse tipo de política governista não pode haver igualdade ou liberdade. Ainda, refutando esse sonhadores, vem a questão religiosa nas repúblicas socialistas: Estado não apenas laico como o nosso, mas estritamente ateu e repressor de qualquer manifestação religiosa. Se não há liberdade de culto ou expressão, como pode haver igualdade?!
> Voltando ao voraz Monstro e à Indústria, temos a ascensão de novos padrões de beleza, os quais retomam os ideais estéticos da cultura greco-romana clássica (corpos magros e musculosamente definidos) e se distanciam dos conceitos medievais que valorizam curvas e carne, já que magreza era considerada, nessa época, sinônimo de fome e pobreza. Hoje, nosso "sex simbol" é a Gisele Bündchen, modelo magérrima (quase esquelética), bronzeada (o que também contraria a estética medieval que valoriza mulheres alvas e lânguidas, já que as marcas de sol remetem a labuta pesada e pobreza também) e de feições europeias (olhos claros e cabelos louros são extremamente valorizados, o que explica a grande difusão de lentes de contato claras e tinturas de cabelo no Mercado da Beleza).
> É esse padrão de beleza personificado pela Gisele que impede que o clamor da Declaração seja completamente cumprido. Para ter eminência social é necessário pele bonita e hidratada, dentes ajustados e de cor branco-brilhante, unhas bem feitas, nenhuma ruga ou marca de envelhecimento. Ainda, é devido a isso que milhares de mulheres morrem anualmente em mesas de cirurgia plástica, gastam trilhões de dólares em cosméticos e salões de beleza e tornam rosto, seios e glúteos em estruturas plásticas muitas vezes bizarras e de aparência demasiadamente artificiais. Ainda, as escolas e faculdades estão cheias de coitados que sofrem com "bullying" e ostracismo e que, muitas vezes, chegam ao cúmulo do desespero, tirando as próprias vida com o suicídio ou assassinando seus opressores.
> Há um ditado hodierno que diz:"todo rico tem a obrigação de ser bonito". Talvez tal dito proceda, pois a referida Indústria, mediante grandes quantias monetárias, é capaz de transformar corpos radicalmente através de cirurgias plásticas, maquiagem, botox, tratamentos de pele etc.
> É graças a essas oportunidades trazidas pela Indústria da Moda e Beleza que relutamos em aceitar pessoas que fogem do padrão, pois com os avanços técnicos e científicos é possível todos sermos "bonitos" e, portanto, aceitos
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> Claro que é bom se cuidar e sentir-se bem consigo mesmo. Isso nos torna mais alegres, sociáveis e até mais saudáveis. Sim, eu faço uma concessão com relação a essa vaidade saudável. Mas a mídia e o comércio atual tem exacerbado essa vaidade e deturpado a idéia de beleza, a qual deveria depender muito mais dos sentimentos do indivíduo do que de seu exterior forjado e mentiroso. Pessoas boas e de bem com a vida, que tinham tudo para serem satisfeitas e cheias de auto-estima, começam a entrar em depressão ao engordar depois de uma gravidez por pensarem que não serão mais aceitas pela sociedade e nem mesmo pelos seus parceiros! Talvez não sejam mesmo, já que esse consumismo absurdo que toma conta do mundo globalizado quer que todos sejam idênticos seguindo um paradigma de homogeneização das fisionomias.Enquanto isso, pessoas de caráter desprezivel e mesquinho transformam-se em verdadeiro "sepulcros caiados", onde por fora há brancura, flores e lápide de mármore, mas dentro só existe morte e podridão.
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> O termo "feio", como xingamento, deveria ser considerado tão preconceituoso quanto "queimadinho", "macaco", "baleia" pois visa designar uma pessoa que não é digna de respeito ou aceitação da sociedade apenas pela aparência. Isso é preconceito! Deveria ser intolerado!
> Estética é apenas um ideal e é por isso que há tanta divergência entre correntes filosóficas que tentam defini-la. Desde Platão não há consenso e nunca haverá. Além disso, a estética e beleza não podem ser alcançadas em m
> plenitude como pregam marcas de maquiagem por tratar-se de um ideal filosófico.
> uma pena que uma sociedade tão moderna e avançada, que busca tanto ser melhor, esteja presa a conceitos tão limitados, forjados pela mídia e meios de comunicação, e que aliena a população tornando-a excludente e desigual. Espero que minha opinião tenha feito vocês refletirem sobre igualdade e preconceito e espero que como os abolicionistas do século retrasado, possamos, juntos, lutar por uma sociedade mais igualitária e sem barreiras. Quem sabe, sonho eu, consigamos converter ideologias e desmascarar sofismas que, infelizmente, dominam nossa sociedade.

Por Diego Magalhães

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