domingo, 13 de novembro de 2011

ENEM: uma palhaçada! carta argumentativa a Hadad

ENEM: mostra da mediocridade e corrupção brasileiras


Caríssimo ministro Hadad, no Brasil, a corrupção não apenas inunda o Congresso Nacional, mas as empresas privadas, academias do exército e da polícia, ONGs e, também, o medíocre Exame Nacional do Ensino Médio, junto com todo o Sistema Educacional. Eis os relatos de absurdos e inadmissíveis protagonizados pelo Exame:
em 2009, três dias antes da aplicação da prova, ocorreu anulação devido à sua vazão.
Em 2010, uma professora da Bahia, envolvida na elaboração das provas, contou ao filho o tema da redação. Também, um jornalista, com a intenção de provar a facilidade em burlar a segurança da prova, vai ao banheiro e envia uma mensagem de texto pelo iPhone. Por fim, 33 mil (!) provas são impressas com erros, prejudicando os inscritos e
obrigando o INEP areaplicá-las.

O ENEM (criado em 1998 como espécie de auto-avaliação dos alunos ao fim da educação básica) cresceu bastante desde a criação do Sistema de Seleção Unificado (Sisu) em 2009, o Exame tornou-se garantia de ingresso para importantes universidades públicas e particulares (para 80 mil vagas em 2011). Agora, tem o desafio de consolidar-se como a principal porta de entrada para o ensino superior. Neste ano teve 5,4 milhões de inscritos (a população do Estado de Goiás) com 123 mil salas em 20 mil escolas por todo o país! Um recorde.

Deixando dados de lado, venho argumentar com o senhor sobre as muitas razões que fazem do ENEM um exame de qualidade inferior a de um vestibular local: não há questões específicas para cada área (essenciais para a preparação individual do vestibulando de acordo com as matérias de sua afinidade e que serão mais importantes para o seu curso), não é cobrada a leitura de nenhuma obra (na UFRN são cinco e são essenciais para uma maior fluência de leitura e conhecimento de mundo e da matéria para os alunos), a história e geografia locais não são cobradas, fazendo com que o estudante não conheça os aspectos, peculiaridades e características de sua região.
Ano passado fiz vestibular da Comperve (UFRN) e fiquei impressionado com os vários artifícios usados contra fraudes. Ao ir ao banheiro, todos os candidatos deveriam ser revistados com raquetes detectores de metais, além disso, há em cada carteira o nome do candidato que lá deve sentar (pessoas oriundas de uma mesma escola não sentam perto!) e os fiscais analisam as fotos de cada um para que não supervisionem salas onde haja conhecidos. O coitado do ENEM não possui nada disso, fazendo com que duvidemos – e com muita razão, haja vista as inúmeras fraudes já descobertas, desde mensagens no Twitter e SMSs até a divulgação da prova inteira antes da data de aplicação! – de sua imparcialidade e acurácia.
O pedagogo Ocimar Avalarse disse com razão sobre a avaliação: “na mobilidade gerada pelo ENEM, o aluno do Sudeste tira a vaga do estudante do Nordeste”.
Pelo seu histórico de corrupção e descrédito (os quais revelam como a sociedade brasileira pode ser intrinsecamente corrupta e amoral em múltiplos segmentos).
Um exame educacional deveria garantir o mínimo de credibilidade, sendo um processo sério e seguro. É óbvio que o ENEM não é nada disso, muito pelo contrário! Trata-se de uma tremenda palhaçada como absolutamente todas as coisas oriundas de nosso desprezível governo.
É triste que o Sistema Educacional Brasileiro, que já é completamente deplorável e falido, tenha de ser avaliado por uma prova mais bizarra que ele. O ENEM e seus fracassos personificam a situação do ensino neste país: carga de conteúdo infinitamente onerosa e inútil (a maior do mundo!) que jamais poderia ser cumprida em apenas três anos de ensino médio (nem mesmo em quatro!), desvio de verbas, fraudes, maquiagem e avaliações extremamente fáceis, que, de maneira alguma, correspondem com a profundidade exigida nas matérias.
Vejamos um exemplo: a grade curricular do MEC postula que no Ensino Médio devemos (em maioria dos casos, "deveríamos") estudar a taxonomia, fisiologia (hormônios, fenômenos vitais e funções dos órgão), filogenética (origens das espécies, ascendentes pré-históricos e sua genealogia), reprodução e características genéticas e fenotípicas (ufa!) dos vegetais. Não discutamos as inexistentes razões para que estudantes do colegial sejam forçados a aprender tantos assuntos que jamais usarão e logo esquecerão, o que constitui tudo uma grande perda de tempo e alienação dos pupilos. Depois de conhecer toda a complexidade das plantas vem a ridícula prova do ENEM: “qual a classificação das plantas que dão flores e frutos?
a) briófitas
b) traqueófitas
c) gimnospermas
d) pteridófitas
e) angiospermas”,
será mesmo que precisamos passar dois trimestres inteiros estudando Reino Plantae, para nos fazerem perguntas ridículas como essas? E as pobres escolas públicas, que vivem em greve e nem dispõem de giz para os professores (ou papel higiênico...), será que ensinam todo esse conteúdo da forma correta? Óbvio que não. É impossível. Nem minha escola particular caríssima (CEI Mirassol) consegue cumprir a grade do MEC em três anos, imagine o Sistema Público. É ridículo e utópico o MEC pensar que é possível que nós aprendamos tudo isso. O Brasil possui uma educação de “quarto mundo” com uma grade curricular de primeiro. Nem os japoneses e coreanos tem uma grade como a nossa.
O ENEM é ridiculamente fácil justamente por causa das escolas públicas, e, ainda assim, elas não obtêm resultados satisfatórios. Nosso Sistema Educacional jaz em uma cova em condições deploráveis. Seus diretores usam 78% do seu tempo com assuntos burocráticos e administrativos, em detrimentos de assuntos realmente importantes, como os pedagógicos. Verbas são desviadas, professores estão constantemente em greve, falta merenda, carteira, papel higiênico, giz e consideração por parte do governo!
Absolutamente todos nós brasileiros (não apenas o Ministério da Educação comandado pelo senhor) concordamos que um país só pode ir para frente se desenvolver com boa educação. É por isso que o Brasil, país extremamente rico e repleto de recursos, não consegue um bom IDH, devido à educação de péssima qualidade. O Japão, país paupérrimo em recursos naturais e que é obrigado a importar 77% de sua matéria-prima, está em melhores condições que nós por ter colocado o ensino em primeiro lugar.
O ENEM é medíocre porque a educação brasileira é medíocre. Ele e seus resultados funcionam como um termômetro e acusam a situação doentia em que estamos. Não é através de cotas ridículas ou argumentos de inclusão que melhoraremos o desempenho de alunos da rede pública, pois esses constituem métodos injustos e imprecisos. Apenas haverá inclusão justa e verdadeira se o ensino fornecido a esses pobres for de qualidade, como os governantes poderiam promover se não roubassem tanto.
Muito obrigado pela atenção, Diego Silva.

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