quarta-feira, 16 de novembro de 2011

velhice e o tempo

Velhice e tempo

Vendo uma propaganda do Pelé para a Vivo Telefonia, eu e minha mãe percebemos o quão velho e acabado ele está. Isso me dá uma deixa para uma reflexão antiga que tenho sobre a velhice e o passar do tempo.
Sim, o tempo passa rápido. Esta constatação é unânime na modernidade. Temos milhões de tarefas para realizar e apenas 24 horas por dia. Dormir, comer, assistir seriados americanos, estudar (!), papear no Messenger, assistir Glee e THe Middle, ir à praia surfar, checar o Face... enfim! Nunca conseguimos fazer tudo o que queremos e, no fim do dia, sempre falta muitas coisas para serem feitas. Entretanto devemos ser mais organizados e organizar prioridade, pois o tempo é democrático, ou seja, igual para todos, imutável e irrevogável. O que foi já era!
O mundo é constantemente inundado de novidades e inovações; invenções e comidas que queremos experimentar, filmes e seriados que queremos assistir, países que queremos visitar, produtos que queremos comprar... Há muitas possibilidades do que ser e fazer, e, esse leque de opções nos deixa sempre entretidos e ocupados, fazendo com que não notemos o tempo passar.
Entretanto, será que o tempo passa rápido assim para os velhos? A vida deles não possui mais a intensidade de antes e tudo passa a ser mais lento, as músicas, o andar, a fala e até a inteligência – as sinapses ficam mais lentas devido à perda de algumas pequenas regiões cerebrais (memória, por exemplo) e diminuição na ação dos neurotransmissores. Deve ser bem chato.
Essa nossa vida dinâmica é muito diferente de antigamente (Idade Antiga), quando o ser humano vivia em vilarejos isolados com uma cultura limitada, comendo os mesmos alimentos, vendo sempre as mesmas pessoas e paisagens, sem nenhuma novidade. Porém, parece que, muitas vezes, os idosos são, forçadamente, inseridos nesse contexto anacrônico, seja por si mesmos, por acharem que não são mais capazes de acompanhar o pique da modernidade, ou pela família que parece usar viseira (instrumento instalado na cabeça de animais para que só olhem através de um ângulo).
Infelizmente, muitos familiares ignorantes acham que seus idosos já “deram o que tinham que dar” e agora devem esperar a morte chegar (=/) quietinhos em um canto, sem atrapalhar ninguém. Se eles conseguirem lançar mão da aposentadoria dos coitadinhos, melhor ainda! Isso é deprimente e triste, mas muito recorrente, principalmente aqui no Nordeste, onde a cultura é absurdamente segregacionista, ignorante e preconceituosa.
Além de não ter mais a antiga vitalidade, ter perdido amigos e familiares queridos e também perder grande parte de sua autonomia, os velhos ainda precisam ser desprezados e escanteados?!
Por que os velhinhos não podem trabalhar? Se já não exercem com a mesma eficiência o que faziam antes, podem realizar trabalhos mais leves e simples. Idosos não deveriam apenas subtrair como pesos mortos, mas podem somar, como todas as outras pessoas – claro que não na mesma intensidade, mas ainda assim, contribuindo com uma parcela significativa, a qual pode fazer muita diferença à sociedade.
Se o Pelé pode fazer vários comerciais e ganhar milhões mesmo com 71 anos, por que meus avós não podem? Cada pessoa possui suas aptidões e talentos, mesmo depois da terceira idade. Habilidades não se perdem simplesmente, não se vão com a idade não.
O tempo para os senis passa mais devagar. Eles não possuem mais tantos afazeres e suas vidas não são mais tão emocionantes, cheias de momentos mágicos e intensos como antes. Na juventude tudo é cheio de cor e vida. O tempo voa já que temos tantos sonhos e planos, amigos para curtir, lugares para conhecer e tanto a fazer. Nossos 20 primeiros anos são os mais repletos de novidades e experiências. Começamos a andar, falar, andar de bicicleta, damos o primeiro beijo, o primeiro amor, a primeira transa, nos formamos pelo menos umas três vezes, ganhamos um carro, batemos esse carro (no meu caso o carro foi o do meu pai!), conhecemos centenas de pessoas, viajamos... enfim! Milhares de momentos preciosos e marcantes que não se repetirão. E, de repente, a vida passa! A juventude se vai e vêm as dores, as perdas de memória, cabelos grisalhos, doenças... e você busca apenas tranqüilidade, um nicho confortável onde você possa descansar.
Muita coisa muda e acontece nesses primeiros 20 anos. Porém, para mim, dos 60 aos 80 não há muitas novidades. Não há mais transições – como uma adolescência, por exemplo – apenas uma progressiva perda da saúde física e mental. Não há mais tantas mudanças ou tantos acontecimentos marcantes e o tempo já não passa tão depressa. É como se sua vida tivesse parado e você estivesse como um espectador, assistindo à vida dos que estão mais jovens e cheios de vitalidade. Muitos sonhos e desejos se concretizaram e outros se perderam, não há mais aquela expectativa ou ansiedade com relação ao que acontecerá amanhã, e muitos se sentem sem motivo algum para continuar vivendo (ou sobrevivendo).
É aqui onde muitas pessoas se enganam. Claro que alguém que trabalhou duro a vida toda, sustentando e criando a família, merece calmaria e sossego, mas isso não significa letargia ou inércia; trata-se apenas de um ritmo mais lento. Senhores que não se dão conta de que já não estão mais tão aptos ao trabalho pesado e insistem em manter o mesmo ritmo de trabalho, estão prejudicando a si mesmos e à sua saúde. Devemos ter consciência e responsabilidade para diminuirmos a velocidade e respeitar os novos limites que nos são impostos pela vida com o passar dos anos. Ainda, é imprescindível que os outros ao nosso redor também saibam respeitar essa nossa nova condição.
Apesar de ser errado os avós criarem os netos, pois os pais são fundamentais no desenvolvimento e os únicos que podem realmente acompanhar o ritmo pueril e não apenas passar a mão na cabeça (netinhos são sempre mimados né?! Engordo quilos quando passo apenas um fim de semana lá em vovó), é importantíssimo esse convívio para ambas as partes. Portanto, netos devem ser uma espécie de entretenimento periódico para os vovôs e vovós.
Temos que respeitar os idosos e suas limitações. Eles não são objetos obsoletos ou sobressalentes, mas seres humanos cheios de sabedoria a compartilhar e amor para dar, que podem se tornam bastante úteis se acharmos um bom local para encaixá-los. =)
Por: Diego Magalhães

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